/Ler para crescer: o poder transformador da leitura e a importância de projetos literários

Ler para crescer: o poder transformador da leitura e a importância de projetos literários

  • Por Márcia Neves, professora do Progresso Bilingue Santos. – (Foto: Divulgação)

Ler torna o homem capaz de se relacionar consigo mesmo, consequentemente, com o mundo. É um processo essencial e atemporal, que transcende a decodificação; um ato de reconhecimento, compreensão, tradução, aceitação ou recusa. É como se apaixonar – quanto mais se aproxima da leitura, mais se encanta pelo conhecimento. Para mim, ler é alongar-se para abraçar o mundo. Obviamente, um ato necessário para democratizar o acesso ao conhecimento, enriquecer-se de literatura e promover um senso de identidade.

Nada melhor que essas figuras de linguagem para defender a leitura como estratégia básica de desenvolvimento pessoal, social, cultural e econômico do país, visto que é recurso de entendimento de todas as áreas do conhecimento.

Como garantir que um indivíduo se desenvolva enquanto cidadão crítico, como agente muito mais que protagonista, sem a prática de uma leitura ativa e consciente, onde questões sociais e políticas são muitas vezes complexas?

Pessoas mais letradas tendem a ser mais produtivas e inovadoras, a ter mais controle de suas emoções, a ter mais engajamento com questões sociais e pessoais. São muitos os benefícios socioemocionais proporcionados pela leitura. Segundo Ziraldo (escritor e dramaturgo brasileiro), a gente tem que ler como quem respira. Ou seja, precisa ser um exercício diário e inesgotável.

Se alguém me pedir uma definição precisa do que é a leitura, farei como Clarice Lispector fez ao entrevistar Chico Buarque em 1968, perguntando-lhe “o que é o amor”, ambos disseram não saber. E nós, certamente, diríamos o mesmo, diante das possibilidades e complexidade de respostas, frente a um assunto/substantivo tão particular, completo e abstrato, quanto a leitura (cada um possui e defende o seu individual, a sua realidade, seus gostos e interesses). É preciso vivê-la, experimentá-la e tomar consciência de sua importância.

E agora? Como incentivar cada vez mais estudantes a gostarem de ler, diante de tanta ferramenta digital que lhes rouba o tempo e o interesse? Qual o papel da escola diante de um cenário disruptivo na educação?

A 6ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” (2024), do IPL (Instituto Pró-Livro), aponta que mais da metade dos brasileiros não lê livros; e ainda, que a escola tem deixado, cada vez mais, de ser o lugar onde mais se pratica leitura. (Considera-se leitor a pessoa que leu, ao menos, um livro nos últimos três meses, físico ou virtual). A pesquisa apresenta dados preocupantes e, ao mesmo tempo, reveladores do quanto a internet vem roubando o tempo e os hábitos dos estudantes; o que reforça a necessidade de reorganização de políticas de incentivo à leitura e valorização da mesma, como a predileção de espaços de leitura nas escolas, a exemplo das bibliotecas.

Em primeiro lugar, incentivar a leitura desde a infância é um investimento para um futuro com alunos leitores. E isso não é tarefa só da escola, mas de toda a sociedade, sobretudo, da família. Mas, é na escola que os estudantes são direcionados a diversas atividades de desenvolvimento cognitivo, muitas vezes sendo o único lugar para isso.
Em segundo, todo indivíduo carece de repertório para caber no mundo, e mais uma vez a escola se apresenta como primeiro palco para isso, tendo em vista o quão importante é interagir com colegas e professores para a troca, organização e construção de conhecimento.

Muitas escolas adotam livros como complementação pedagógica (paradidáticos), que oferecem abordagem mais prática, dinâmica e contextualizada dos temas pertencentes à grade curricular. Isso é uma excelente maneira de enriquecer a experiência educacional, visto que são projetos literários que fomentam o debate e a reflexão, permitindo aos alunos explorarem interesses pessoais, resolução de problemas, criticidade e respeito às diferenças, além de aprimorarem o vocabulário, a atuação, a criatividade, a escuta e o envolvimento com tecnologias (construção de e-book, uso de aplicativos, etc.).

Como professora da área de linguagens, defendo os projetos literários como ferramenta completa de fomento à leitura, de letramento e letramento literário que, quando sob a supervisão dos professores, com planejamentos organizados e cumpridos, proporcionam aos alunos, além de objetivos pedagógicos, liberdade de expressão, da arte e da cultura, e ainda, expansão e gosto pela leitura, levando-os a escolher e indicar novas leituras, o que penso ser essencial para a construção de repertório além dos muros da escola.

É claro que, diante o exposto, defendo a linguagem literária para a organização, construção e entendimento da vida, do mundo de cada um, tendo em vista as inúmeras possibilidades de construção da linguagem que a mesma permite.

14 motivos para ler

Ler educa e traz conhecimento.
Ler amplia e melhora o vocabulário.
Ler prepara para o futuro.
Ler estimula a criatividade.
Ler impulsiona a formação crítica.
Ler estimula o interesse cada vez mais por leitura.
Ler é um exercício de alma, íntimo, particular.
Ler ensina a pensar e a ouvir (ouvir-se).
Ler favorece a construção de repertório cultural.
Ler dá poder de concentração e reflexão.
Ler oferece ferramentas para discernir.
Ler ensina a restringir, explicar e rechaçar.
Ler capacita para ser e estar no mundo.
Ler forma leitores.

  • Márcia Maria Santos Neves é Professora do Colégio Progresso Bilíngue de Santos há mais de 10 anos com formação em Letras (Português e Espanhol) pela Universidade Católica de Santos, pós-graduada em Alfabetização e Letramento e autora dos livros “Grades de liberdade”, “Poesia o lugar encantado das crianças” e “Haicais Bucólicos”, além de participações em muitas antologias e revistas literárias. Colabora para a Revista Internacional The Bard, desde 2024, escrevendo a Coluna Nossa Literatura – virtudes poéticas.