/Pesquisadora Joana D’Arc Félix, de Franca, recebeu o prêmio de “Personalidade do Ano” do O Globo, na noite de ontem, no Belmond Copacabana Palace, no Rio

Pesquisadora Joana D’Arc Félix, de Franca, recebeu o prêmio de “Personalidade do Ano” do O Globo, na noite de ontem, no Belmond Copacabana Palace, no Rio

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A pesquisadora Joana D’Arc Félix, de Franca, recebeu o prêmio de Personalidade do Ano ao lado do diretor-geral de mídia impressa do Grupo Globo, Fred Kachar, e do diretor de redação do GLOBO, Alan Gripp, na noite de ontem, 28, em cerimônia no Belmomd Copacabana Palace, no Rio de Janeiro – (Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo)

Muito emocionada ao receber o prêmio de Personalidade do Ano no Prêmio Faz Diferença 2017, a pesquisadora Joana D’Arc Felix encerrou a noite de quarta-feira relembrando sua trajetória, marcada por muita luta e preconceito, desde os seis anos de idade.

— Conheci o racismo ainda muito nova, quando ouvi de um professor que eu não seria nada na vida. Naquele momento pensei em desistir, mas meu pai me disse que eu deveria ser maior que aquilo — recorda Joana, que recebeu o troféu das mãos do diretor-geral de mídia impressa do Grupo Globo, Fred Kachar, e do diretor de redação do GLOBO, Alan Gripp.

Desde então, a pesquisadora de 54 anos seguiu à risca o conselho: entrou para a Unicamp aos 14, terminou o mestrado aos 19 e aos 25 anos passou para Harvard, nos EUA. Não sem mais percalços.

Antes, durante o ano em que estudou em uma cidade pequena da Carolina do Sul, nos EUA, berço da Ku Klux Klan, mais uma vez reviveu o racismo.

— Nas poucas vezes que saí de casa para ir a uma lanchonete, fui tratada pela atendente como se não existisse por ser negra. Ela sequer me olhou e serviu meus dois colegas na mesa — lembrou em seu discurso de agradecimento, contando que sabia das dificuldades que enfrentaria. — Não me arrependo, porque lá surgiu o convite para meu pós-doutorado em Harvard.

Além dos mais de 70 prêmios que recebeu ao longo da carreira de sucesso, Joana hoje se dedica a ensinar jovens que, como ela, passsaram por dificuldades financeiras e enfrentaram o preconceito.

E serve de exemplo. Ouviu de um pai que sua filha deixou de ser prostituta graças às aulas; outra mãe contou que o filho largou a vida de traficante.

— Os dois acabaram de passar no vestibular. Agora serão químicos. Há poucos dias soube que três ex-detentos da Fundação Casa (antiga Febem) querem fazer parte da minha turma. Esse é o poder da educação e da ciência: transformar vidas. As dificuldades são muitas, mas nós educadores temos a obrigação de trabalhar e cultivar o talento desses jovens, que serão os políticos, cientistas e professores que farão a diferença no futuro.

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Cerimônia do Prêmio Faz Diferença aconteceu no Copacabana Palace – (Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo)

HORA OPORTUNA PARA PREMIAR A CIÊNCIA

Antes da cerimônia, Joana revelou que foi uma surpresa muito grande ser homenageada neste ano. E disse que a premiação não poderia vir em hora mais oportuna.

— É muito importante neste momento ver esse tipo de valorização da educação e da ciência no Brasil. Mostra que a transformação de vidas é possível através da educação — contou. — E após o prêmio fui procurada por um empresário (Leonardo Oliveira, da empresa Lyra Navegação) que não conhecia nosso trabalho e hoje está financiando um projeto, com bolsas de estudos.

Ganhadora de inúmeros prêmios na carreira, com destaque para o prêmio Kurt Politizer de Tecnologia de “Pesquisadora do Ano”, em 2014, Joana é, desde 2004, docente e pesquisadora na Escola Técnica Estadual (ETEC) Prof. Carmelino Corrêa Júnior, em Franca, cidade do interior de São Paulo. Para ela, despertar o espírito de investigação nos alunos é sua tarefa primordial:

— Lá, mostro que é possível pensar a estudar além da sala de aula. Que a bolsa de Iniciação Científica é melhor que o Bolsa Família.

Hoje, ela faz pesquisa de ponta com alunos do ensino médio. De lá para cá, em parceria com os estudantes, ela registrou 15 patentes nacionais e internacionais.

De família pobre de Franca, no interior de São Paulo, a professora de Química estudou em apostilas emprestadas e, muitas vezes, dormiu com fome quando morava em Campinas, onde fez graduação, doutorado e mestrado na Unicamp. De lá, partiu para os Estados Unidos, onde concluiu o pós-doutorado na Universidade de Harvard.

Os seus inventos são feitos a partir de resíduos de curtume, processo que transforma pele em couro. Entre as suas inovações estão cimento ósseo para reconstituir fraturas; colágeno para o tratamento de osteoporose e osteoartrite; sapatos com antimicrobianos para combater micoses e rachaduras no pé; pele humana artificial para transplante utilizando sobras de pele suína; cinco fertilizantes; e até um sistema de filtragem de água aproveitando escamas de peixe.

Em sua 15ª edição, o Prêmio Faz Diferença é uma iniciativa do GLOBO em parceria com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) e presta uma homenagem aos brasileiros, que, nas mais diversas áreas de atuação, serviram de inspiração para o país e o mundo em 2017. Foram três indicados em cada uma das 16 categorias. Os vencedores foram escolhidos pelos votos de jornalistas do GLOBO, de dirigentes da Firjan, dos ganhadores do ano passado e do público.

Premio O Globo

O casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank posam com a francana Joana D’arc Felix, a grande homenageada da noite – (Foto: Marcos Ramos/Agência O Globo)

PARABÉNS, Joana D’Arc Felix!

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Todos os vencedores do Prêmio faz Diferença, no Copacabana Palace – (Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo)

 

Matéria/Crédito: por Marina Gonçalves, do O Globo (oglobo.globo.com)