- Psicanalista reforça a importância do acolhimento da criança e da superação do sofrimento diante da ausência dos pais. – (Foto/Ilustrativa: Freepik)
Ao final de outubro, o Brasil viu sancionada uma lei que passou a reconhecer oficialmente o abandono afetivo de criança ou adolescente como ato ilícito civil, ou seja, passível de punição, com a cobrança de indenização. A nova lei levanta a necessidade de um olhar mais abrangente sobre como lidar com a ausência de um dos pais.
O texto da lei postula que cuidar é um dever jurídico e social e que o sustento material e o apoio afetivo são fundamentais para a formação emocional e moral da criança. “De fato, ambos os pais são importantes para a formação do caráter e da personalidade da criança. Mas, como fica a formação moral e emocional de crianças órfãs, por exemplo? E de crianças cujos pais vivem em outra cidade, estado ou país?”, questiona Yafit Laniado, psicanalista e hipnoterapeuta, criadora da Relacionamentoria, consultoria especializada no relacionamento entre pais e filhos.
A ausência de um dos pais na vida de uma criança, seja por morte, por escolha ou pela necessidade de se afastar, cria um vazio. “Esse vazio emocional e existencial acompanha a criança com perguntas sobre seu próprio valor, pertencimento e segurança. No entanto, não nos cabe preencher a ausência e evitar que a criança sofra. Mas, sim ajudá-la a enxergar que ela tem ao seu lado pessoas que a amam, apoiam e acompanham”, destaca Yafit.
“Nosso papel como adultos é o de validar a dor, oferecer apoio e ajudar a criança a reconhecer e acionar as forças que ela tem dentro de si. Devemos ter em mente que a superação gera crescimento em todas as fases da vida”, reforça a especialista.
Yafit afirma que a criança é quem escolherá qual o peso que essa falta terá dentro de si: “se a definirá para sempre como uma vítima da vida ou se acabará se tornando uma reserva de força interior e de crescimento pessoal. Então, quando deslocamos o foco da pergunta ‘por que isso aconteceu com ela?’ para a pergunta ‘como podemos ajudá-la a ver o que existe dentro dela e em sua vida?’, abrimos espaço para que ela avance a partir de um lugar de força, e não de carência.”
“O verdadeiro crescimento não nasce da ausência de dor, mas da maneira como a criança – e nós junto com ela – aprendemos a iluminar o que existe — mesmo quando algo falta”, conclui Yafit.










