Fundado em 1891, diário volta às bancas no domingo (25) – O empresário Omar Peres, que relançará o ‘Jornal do Brasil’ – (Foto: Ricardo Borges/Folhapress)
Depois de oito anos sem edição impressa, no domingo (25) o “Jornal do Brasil” volta a circular com um plano de negócios inesperado. “Vamos focar as bancas”, diz o empresário à frente do relançamento, Omar Resende Peres, 60.
Ele diz que a tiragem será de 50 mil exemplares no primeiro dia e, ao longo do mês seguinte, para testar a recepção dos leitores, de 20 mil exemplares diários, sete dias por semana. O preço de capa será de R$ 5, em formato standard.
Publicidade e assinaturas não serão prioridade. “O nosso plano de negócios foi todo realizado para a venda de bancas”, diz, citando uma pesquisa que levantou “um potencial de 50 mil a 100 mil leitores por dia” no Rio.
Assinaturas, inclusive para a versão digital, podem ser implementadas no futuro. E o jornal já tem um departamento de publicidade, com seis profissionais, mas o eventual retorno “será lucro”.
“O mercado no Rio está muito machucado, em decorrência da crise que estamos vivendo”, diz Peres. “Agora, nós temos que viver de banca.”Ele reconhece que parece estar “na contramão da história”, mas lembra que não é “um neófito”, tendo sido proprietário de uma afiliada da Globo e de um jornal em Juiz de Fora (MG).
“E eu estou relançando o ‘Jornal do Brasil’, que é uma marca icônica no Rio e ainda tem um mercado relevante”, diz. “O ‘Jornal do Brasil’ ainda está vivo nas pessoas do Rio. Eu acredito nisso, nesse patrimônio.”
Fundado em 1891, o “JB” marcou a modernização do jornalismo brasileiro a partir de 1959, quando Janio de Freitas, hoje colunista da Folha, comandou sua reforma gráfica. Peres assumiu a marca em 2017.
CUSTO
No entender do empresário, “o que vai viabilizar” o projeto é seu baixo custo operacional. Ele se nega a dar números sobre o investimento feito, mas enfatiza que a estrutura “é muito pequena”, inclusive Redação.
Segundo o diretor de Redação, Gilberto Menezes Côrtes, serão cerca de 30 jornalistas. Contando colunistas e outros, o “time total” chega a 50, “jornalistas muito experientes, que abraçaram a causa”, diz Peres.
Eles vão responder por reportagens especiais, artigos e colunas, que se somarão à edição, “para dar a cara do ‘Jornal do Brasil’”, do material fornecido por agências como Estado e France Presse e o jornal esportivo “Lance”.
Mais do que na produção de conteúdo, o jornal vai economizar com impressão e distribuição, que ficarão a cargo da Infoglobo no Rio e do “Jornal de Brasília” para a pequena tiragem na capital federal (2.000). Em São Paulo, só estará disponível nos aeroportos.
O site do “Jornal do Brasil”, mantido nestes oito anos por outra Redação, também estreia novo formato no domingo. Peres decidiu deixar o portal Terra, onde está abrigado, mas ainda definiu novo destino.
O que está mais adiantado é o lançamento da JB-TV, que “é um outro produto, não tem nada a ver com o jornal impresso, nada a ver”, diz. “É outro time, vai ser feito por jovens que são hoje linkados à internet.”
O empresário, que tem hoje investimentos em fazenda e restaurantes no Rio, vai se dedicar ao jornal diariamente, “como membro do estafe”. Mas só escreverá eventualmente, como na edição do próximo domingo.
Seu texto, adianta ele, será uma mensagem aos leitores, afirmando acreditar na marca do jornal, porque “o que mora na alma não morre”, e no Rio de Janeiro. Em suma: “Nós vamos sair desse imbróglio em que a gente está”.
CIRO
Tanto Peres como o diretor Côrtes, veterano do primeiro “JB” e mais recentemente em veículos como GloboNews, afirmam que o jornal será pluralista, sem favorecer políticos ou grupos.
“Eu sou brizolista”, diz o empresário. “Continuo sendo brizolista. Tenho proximidade com Ciro [Gomes, presidenciável do PDT]. Mas aqui na Redação eu tenho pessoas que vão torcer por alguém do PT, por alguém do PSDB.”
E conclui: “Não pedi atestado ideológico para ninguém. E a minha convicção pessoal, de que Ciro é o melhor candidato hoje, não vai ter a menor influência. O jornal vai fazer jornalismo”.
Matéria Reprodução/Crédito: por Nelson de Sá – Folha de S.Paulo